






Porvir, mútiplo, 2023. Editora Ébria.
Porvir é um texto-pedra que fala do potencial, daquilo que está prestes, do que talvez aconteça. Tem um tom de manifesto, mas pode se parecer também com uma reza, no que as rezas tem de invocação para que se realize algo que se deseja. Fala de risco, de defesa. Quando amassado, torna-se uma pedra que cabe na mão. Pode-se jogá-la no chão, empilhá-la junto com outras ou fantasiar que se pode atirá-la para quebrar vidraças. Segue o escrito:
“Nós, espectadores do porvir, reivindicamos todas as pedras, lâminas e barricadas pelo o que estão prestes a atingir, cortar e conter.
Que as pedras esmaguem todo mal.
Que as facas cortem todo mal.
Que as barricadas nos protejam de todo mal.
um sussurro reanima palavras gastas sobre aquele que matou um pássaro ontem com uma pedra que jogou hoje.
Pedras serão lançadas. Antes e depois só pesam.
Soam geologicamente surdas em frequências inaudíveis,
exercícios de graves e de gravidade.
uma outra memória em voz baixa: – uma tonelada de surdez
Já as facas rasgam desafinadas e estridentes.
Logo irão reluzir ou refletir como espelho, podendo cegar.
Barricadas ardem agora e sempre.
Inflamando tudo o que se pode encontrar como anteparo.
Que seja feita toda vontade de pedra, faca e fogo.”